Pedro Switcher o organizador por trás da Festa Fetiche em entrevista ao BLUBR conta sobre os desafios enfrentados e sobre a cena Leather em BH e SP

No próximo dia 02 de Março acontece no bairro Floresta, em Belo Horizonte, mais uma edição da festa Fetiche. Organizada por Pedro Switcher, é um dos eventos fetichistas de maior prestígio da região.
Realizada na Lotus Lounge, o espaço de realização da festa conta com dois ambientes, um lounge para tomar aquela bebida, interagir com outros fetichistas e escutar uma boa música. No segundo piso, uma área mais reservada conta com dark room e áreas de iluminação mais baixa para quem deseja algo com um pouco mais de privacidade (ou não!)

Os únicos requisitos para participar da festa são não ter preconceitos com os fetiches alheios e respeitar o próximo.
Falamos um pouco mais com o produtor da festa, Pedro switcher, para conhecer um pouco de seu trabalho e sua trajetória no mundo fetichista, confira a entrevista:

Afinal, quem é Pedro Switcher?

Tenho 30 anos, publicitário, atuante na área de produção de eventos fetichistas em BH e SP. Atualmente trabalho como suporte de TI e organizo eventos fetichistas. Atualmente morando em SP e visitando BH sempre que possível, costumo fazer novos contatos, conversar com pessoas iniciantes para explicar mais sobre fetiches, BDSM e todo esse mundo que é novo para eles. Também gosto de conversar bastante com pessoas experientes, pois só assim sinto que posso ganhar cada vez mais experiência e passar o ensinamento adiante também.

Desde criança, sempre tive traços fetichistas, quando gostava de amarrar com talas de imobilizar. Imobilizava pés, pulsos, treinava novas “técnicas” e sempre me achei diferente por conta disso. Somente na adolescência que fui descobrir que essa diferença tinha um significado e que seria o fetiche e o BDSM já instalado em minha mente. Desde os 16 anos comecei a estudar mais e aprofundar no assunto. Foi quando tive a primeira sessão. Infelizmente, quase sofri nas mãos de pessoas com más intenções e, inclusive, pedófilos. Por todos esses motivos, gosto de proteger todas as pessoas com quem tenho contato, principalmente os mais novos no meio, e alerto aos perigos que devem se prevenir.

O meu primeiro acessório foi uma algema, que tenho até hoje, meu xodó. Alguns outros acessórios também fazem parte do meu pequeno arsenal, incluindo muitas cordas, chicotes, floggers, cinto de castidade, correntes, dildos, plugs, etc. Sempre querendo mais e mais. Comprar acessórios praticamente virou um vício.

 

Hoje pode-se dizer que tenho 14 anos de BDSM, entre pesquisas e práticas. Conheço nomes importantes do meio como Dom Barbudo e Dom PC (Mr Leather Brasil 2018 e 2019), conheci Brenno Furrier (o qual admiro até hoje), Dom Lobo (amigo pessoal), Gustavo Barreto (um dos podólatras mais desejados), Cigar Master (Principal nome da cena BDSM e Leather do Brasil – ao meu ver), Luiz Leather (amigo pessoal também e grande ativista da cena leather mineira), Maori Guy, Volupia, Matrisse, Ares, Woz, DD, Gamal, Dani, Mallicia, entre vários outros.

Pedro e o Mister Leather Brasil 2018 – DOM PC

A ida para a capital paulistana, há pouco mais de 3 anos, fez com que me aproximasse mais destes principais nomes na cena brasileira. Nunca deixando a cena de Minas de lado e procurando fazer com que cresça cada dia mais

Qual a sua relação com o mundo leather?

O leather é o mundo mais novo pra mim. Foi uma das últimas experiências que tive. Tanto que peças de roupa em leather não tenho muitas, mas aceito de presente (rsrs). Vejo que o mundo leather tem uma ligação quase direta com o mundo BDSM. A minha curiosidade com o leather veio dos acessórios em couro como algemas, harness, coturnos, calça e etc. Hoje estou mais dentro do mundo leather e vejo que nem todos são do BDSM e vice versa.
Junto com apoio dos mineiros, vejo que estamos conseguindo crescer cada dia mais, ganhando maior visibilidade, e fazendo com que mais pessoas “saiam do armário, vestindo couro”.

E com o mundo BDSM?

Com o BDSM eu fui descobrindo o verdadeiro Pedro, um cara comum nas ruas e extremamente fetichista entre quatro paredes. O BDSM me ajudou a fazer bastante amizade, perder muitos preconceitos que tinha, conhecer melhor as pessoas e conquistar amigos fofos (nas ruas rs).

Minha relação com o mundo BDSM é totalmente prazerosa, posso falar sobre tudo, encontrar, aprender, ensinar, quebrar paradigmas, eliminar tabus, etc. Esse meio me ensinou que podemos ser do jeito que somos, sem medo de ser feliz, sem medo de ser visto com olhares preconceituosos. Em geral, o mundo leather e o mundo BDSM nos ensina isso. É uma parte de nossa personalidade. São meios nas quais podemos ser nós mesmos, sermos livres.

O que motivou a criar a festa fetiche, quando começou?

A Festa Fetiche teve a primeira edição em Agosto de 2013. Eu já frequentava algumas festas da Domme Matrisse e do Dom Ares e, infelizmente, via que o publico LGBTQ+ não comparecia às festas (em grande quantidade) e resolvi entender o motivo, conversando com as pessoas que eu conhecia, mesmo que virtualmente ainda.
O que eu pude concluir foi que as pessoas ficavam com receio de ir as festas por serem quem são e sofrerem com preconceito. Eu, infelizmente, passei por isso no começo das minhas saídas para os eventos e Happy Hours que rolavam. Certa vez, por ter dado um fora em uma pseudo-Domme, por ser gay e não ser dominado por mulheres, ela me disse que eu deveria voltar a fazer ponto na Av. Afonso Pena. Isso realmente mexeu muito comigo e eu senti na pele o medo do preconceito que as pessoas sentiam.

A Domme Matrisse me deu a ideia de poder fazer um evento BDSM para este público e, no começo, achei que não fosse capaz de dar conta disso. Relutei por um tempo e percebi que alguém tinha que dar um pontapé inicial. Foi então que eu resolvi fazer uma festa mista, assim, fiz com que todo mundo fosse bem vindo, deixando claro que a única coisa que não tolero é o preconceito. Isso fez com que ambas “comunidades” se aproximassem e sentissem mais intimas para se libertarem e viverem seus fetiches tranquilamente.

O espaço em que a festa acontece é um espaço próprio para que as pessoas possam praticar seus fetiches. Temos estrutura para diversas práticas. Spanking, Podolatria, Humilhação, Piss, Velas, Dog Play, Bondage, Exibicionismo, Voyeurismo… e, para aqueles que querem transar, pode transar onde quiser, sem restrição de espaço.
Temos espaço para tudo. Lembrando SEMPRE de respeitar o limite do próximo e certificar que a pessoa está disposta a praticar com você. Para isso, criamos um ambiente super agradável, com bebidas boas, para que todos se sentam totalmente confortáveis em poder chegar perto de alguém e ver se rola aquela química.

Quais os desafios de se fazer uma festa assim em Belo Horizonte?

O maior desafio de todos é, ainda, vencer o preconceito. Algumas pessoas deixam de ir por receio de alguma “olhada torta”, de um comentário malicioso, etc. Muitas vezes, também, tem o pessoal que é casado, que não pode sair certos dias, etc. Quebrar o preconceito e fazer com que as pessoas se sintam à vontade é meu principal objetivo.
Como você avalia a evolução da festa desde sua criação? A aceitabilidade aumentou?

A festa tem crescido cada vez mais. Fico muito feliz em ver casais se formando, pessoas que se conhecem nas festas e acabam dando certo fora dela. Isso me motiva a fazer cada vez mais. Confesso que produzir todo o evento sozinho é bem desgastante, mas a alegria das pessoas, o agradecimento, as belas palavras que recebo ao final, me renovam as energias. Sou muito grato a todas as pessoas que me dão suporte e que me pedem cada vez mais festas. Sempre atraindo pessoas novas, curiosos, interessados, etc. Então pode ser um jeito de que, cada dia mais, as pessoas aceitem os seus fetiches, aceitem os fetiches dos outros e saibam que cada um é livre para fazer o que quiser.

Quais diferenças fundamentais você vê na comunidade de Belo Horizonte quando comparada à comunidade de São Paulo?

A comunidade leather e BDSM de BH e SP são parecidas, mas, ao mesmo tempo distintas.
Parecidas pelo fato de almejarem mais visibilidade e aceitação. Porém, vejo que em Minas existe um esforço maior para que seja uma comunidade só, com todos juntos. Já em SP vejo que, por mais unida que seja, ainda existem muitos conflitos internos que acabam prejudicando a cena.

Pode ser pelo fato de SP ter uma comunidade bem grande e ainda crescendo mais. Então, acaba sendo normal conflitos e briguinhas bobas. O que eu já não vejo em BH.

Porém, acredito que a intenção do Mr Cigar Leather e Recon Fire é exatamente a de consertar isso e promover um espaço mais agradável. O leather na rua é um evento que tem a intenção de unir todos, no mesmo espaço. Conhecer as pessoas, atrair gente nova. Acho os dois fantásticos e admiro muito isso.

A entrevista foi realizada pelo Leather, Luiz à direita  na foto em destaque.

Leia a matéria especial sobre a festa acessando www.blubr.org/festafetiche

 

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